“O artista não sabe que o mundo existe fora da ar­te; por isso atreve-se a criar.”

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"É mais fácil conceber um anjo sob aspecto de pes­soa que se pareça com ele do que como anjo propria­mente dito."

Biografia


Nono filho de Carlos de Paula Andrade (fazendeiro) e Julieta Augusta Drummond de Andrade, Carlos Drummond de Andrade nasce na cidade mineira de Itabira do Mato Dentro. Estuda em Belo Horizonte e, em 1918, muda-se para Friburgo (RJ), sendo matriculado no Colégio Anchieta. Um ano depois, é expulso por "insubordinação mental", após um incidente com o professor de português, e volta para Belo Horizonte.

Em 1925, casa-se com Dolores Dutra de Moraes e conclui o curso de farmácia em Ouro Preto, mas não exercerá a profissão. No mesmo ano, funda com outros escritores "A Revista", que, embora só conheça três edições, será importante para a afirmação do movimento modernista mineiro.

No ano seguinte, Drummond leciona geografia e português em Itabira e então muda outra vez para Belo Horizonte, a fim de ser redator-chefe do "Diário de Minas". Em 1927, ele e Dolores perdem o filho recém-nascido.

Em 1929, deixa o "Diário de Minas" para ser auxiliar de redação e depois redator no "Minas Gerais" (órgão oficial do Estado). Em 1930, publica "Alguma Poesia", seu primeiro livro, numa edição de 500 exemplares (paga por ele mesmo), e se torna redator de três jornais simultaneamente: o "Minas Gerais", o "Estado de Minas" e o "Diário da Tarde".

Em 1934, publica "Brejo das Almas" (200 exemplares) e assume um cargo público no Rio de Janeiro, como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação.

"Sentimento do Mundo" é publicado em 1940, com tiragem de 150 exemplares. "Poesias" sai dois anos depois, pela José Olympio Editora. Em 1944, Drummond lança "Confissões de Minas" e, em 1945, "A Rosa do Povo" e a novela "O Gerente".

Também em 1945, deixa a chefia de gabinete de Capanema, tornando-se editor da "Imprensa Popular", o jornal comunista de Luís Carlos Prestes. Meses depois, afasta-se por discordar da orientação do jornal. É então chamado para trabalhar no Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).

Apesar de exercer funções burocráticas até 1962 (quando se aposenta), o poeta se preocupa com a profissionalização do escritor e, sempre que possível, trabalha em prol dos companheiros de escrita.

Em 1948, lança "Poesia Até Agora". No mesmo ano, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, executa-se a obra "Poema de Itabira", de Heitor Villa-Lobos, inspirada pelo poema "Viagem na Família".

Drummond volta a escrever no "Minas Gerais" em 1949. Sua filha, Maria Julieta (que em 1946 publicou a novela "A Busca"), casa-se e muda para Buenos Aires. No ano seguinte, Drummond vai para a Argentina para o nascimento de Carlos Manuel, o primeiro neto. (Em 1953 e 1960, virão outros dois, Luis Mauricio e Pedro Augusto.)

Na década de 1950, uma sucessão de obras: "Claro Enigma", "Contos de Aprendiz", "A Mesa", "Passeios na Ilha", "Viola de Bolso", "Fazendeiro do Ar & Poesia até Agora", "Viola de Bolso Novamente Encordoada", "Fala, Amendoeira" e "Ciclo". Em 1953, ao estabilizar-se sua situação funcional na DPHAN, deixa o cargo de redator do "Minas Gerais". No ano seguinte, passa a publicar crônicas no "Correio da Manhã".

Nos anos 1960, seus livros serão lançados em Portugal, EUA, Alemanha, Suécia, Argentina e Tchecoslováquia. Nessa época, publica ainda "Lição de Coisas", "Antologia Poética", "A bolsa & a Vida", "Obra Completa", "Rio de Janeiro em Prosa & Verso" (em colaboração com Manuel Bandeira) e "Reunião (10 Livros de Poesia)". Seus temas são o indivíduo; a terra natal, a família e as vivências de menino; os amigos; o choque social e a violência humana; o amor; a própria poesia; a visão da existência. Há ainda os exercícios lúdicos.

Drummond também traduz obras de autores como Balzac, Laclos, Proust, García Lorca, Mauriac e Molière. Em 1963, colabora no programa "Vozes da Cidade" (Rádio Roquette Pinto) e inicia o programa "Cadeira de Balanço" (Rádio Ministério da Educação). E, em 1969, deixa o "Correio da Manhã" para escrever suas crônicas no "Jornal do Brasil".

Na década de 1970, publica "Caminhos de João Brandão", "Seleta em Prosa e Verso", "O Poder Ultrajovem", "As Impurezas do Branco", "Menino Antigo", "Amor, Amores", "A Visita", "Discurso de Primavera e Algumas Sombras" , "Os Dias Lindos", "70 Historinhas", "O Marginal Clorindo Gato" e "Esquecer Para Lembrar". Na primeira metade da década seguinte, sairão "Contos Plausíveis", "O Pipoqueiro da Esquina", "Amar Se Aprende Amando", "O Observador no Escritório" (memórias), "História de Dois Amores" (infantil) e "Amor, Sinal Estranho".

Em 1986, lança "Tempo, Vida, Poesia" e contribui com 21 poemas para "Bandeira, a Vida Inteira", edição comemorativa do centenário de Manuel Bandeira. No mesmo ano, sofre um infarto e fica 12 dias internado.

Em 31 de janeiro de 1987, escreve o derradeiro poema, "Elegia a um Tucano Morto", que integrará "Farewell", último livro organizado pelo poeta. No Carnaval do Rio, é homenageado pela Mangueira com o samba-enredo "No Reino das Palavras". Em 5 de agosto, após dois meses de internação, morre sua filha, Maria Julieta, vítima de um câncer. O poeta fica desolado: seu estado de saúde piora, e ele falece 12 dias depois, aos 85 anos, de problemas cardíacos. É enterrado no mesmo jazigo que Maria Julieta, no cemitério São João Batista (Rio de Janeiro).

"Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?", escreveu certa vez. E de fato, apesar do retraimento e do jeito avesso à publicidade, Carlos Drummond de Andrade era, dentro e fora do Brasil, uma espécie de personificação da poesia.

Fonte: UOL Educação

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Megacelebração de Drummond começa em outubro

Autocaricatura de Carlos Drummond de Andrade, com caneta-tinteiro e lápis de cor sobre papel

Um livro de poemas inéditos, uma nova editora, títulos especiais, acervo pessoal sob nova guarda, homenagem na Flip, exposições, uma nova antologia em inglês. 

Se Carlos Drummond de Andrade já é o poeta mais consagrado do Brasil, nos próximos meses tudo conspira para torná-lo mais célebre. 

Uma enxurrada de grandes acontecimentos terá lugar em 2012, quando se completam 110 anos de nascimento e 25 anos de sua morte -nasceu em 1902 em Itabira (MG) e morreu em 1987 no Rio. 

As prévias começam em 31 de outubro, quando o IMS (Instituto Moreira Salles) promove o "Dia D", série de eventos na data em que nasceu o poeta. A ideia do IMS é que o festejo extrapole os limites do instituto e entre para o calendário cultural do país, como o Bloomsday para a obra de James Joyce (1882-1941). 

Os tantos livros programados começam a sair neste ano. A Cosac Naify tem pronto "Poesia Traduzida", de autores estrangeiros traduzidos por Drummond, previsto para os próximos meses. 

A mesma editora publicará outros quatro títulos: "Confissões de Minas" (1944) e "Passeios na Ilha" (1952), textos entre o ensaio e a crônica há muito fora de catálogo, uma edição de poesia crítica e "Os 25 Poemas da Triste Alegria", o tal inédito. 

Trata-se da primeira obra de Drummond, escrita em 1924 e renegada pelo poeta. O original foi comprado de uma pessoa próxima ao autor pelo professor da UFRJ Antonio Carlos Secchin. 

A Cosac vai publicar uma edição fac-similar, com as anotações feitas mais tarde por Drummond no volume.
No início de 2012, a Companhia das Letras, nova casa de Drummond, começa a reeditar toda a obra do escritor, com novo projeto gráfico e conselho editorial próprio. Serão de 12 a 14 títulos por ano (poesia e prosa). 

Editada pela Record nos últimos 27 anos, a obra de Drummond migrou para a Companhia por iniciativa da família. "Decidimos mudar para uma com outro perfil", limitou-se a dizer Pedro Drummond, neto do poeta. 

O IMS recebeu em novembro a parcela do acervo de Drummond que se mantinha com a família (a maior parte permanece na Fundação Casa de Rui Barbosa). 

Vai administrá-lo, em regime de comodato, por dez anos e, como ocorre desde 2010, editar livros especiais e organizar exposições. 

"Drummond é nossa menina dos olhos na literatura", resume o coordenador executivo do IMS, Samuel Titan Jr.

Fonte: Folha Ilustrada